quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Sebastianismo - Frei Luís de Sousa

O Sebastianismo

            D. Sebastião nasceu a 20 de Janeiro de 1554 e morreu a 4 de Agosto de 1578.
D. Sebastião considerava a cruzada sebástica no Norte de África (a qual lhe ficou a dever a vida) uma missão peregrina de reconquistar a terra dos infiéis, em nome de Deus, uma vez que se julgava predestinado por Deus para a redenção dos infiéis. Assim, a cruzada sebástica assumiria o valor de uma obra divina, isto é, seria levada a cabo em nome de Deus e, simultaneamente, tornaria divinos os próprios portugueses.
Após a morte de D. Sebastião, Portugal caiu no jugo dos espanhóis, motivo pelo qual se criou o mito sebastianista. Os sebastianistas aguardavam o regresso de D. Sebastião que, qual Cristo ressuscitado, voltaria e devolveria a Portugal o brilho e a glória do tempo passado. D. Sebastião era tido, assim, como um Messias.
Contudo, na obra Frei Luís de Sousa constatamos que o mito Sebastianista assume uma conotação negativa corporizada na personagem de Romeiro. Esta personagem simboliza o anti-herói e o elemento destrutivo que, só pela sua presença, aniquila a harmonia de D. Madalena e de Manuel de Sousa e conduz à morte de Maria, que «de vergonha» sucumbe, tal como Portugal, perante a verdade cruel que significa a perda da identidade. «Ninguém» é a resposta do Romeiro à questão formulada por Frei Jorge, resposta que poderíamos associar a Maria, enquanto fruto de uma relação adúltera, e a Portugal, enquanto país subjugado pelo domínio filipino. D. João assume, assim, uma condição de antimito, uma vez que a sua presença enquanto duplo de D. Sebastião não preconiza a salvação da nação, mas a destruição da hegemonia simbolizada pela união entre D. Madalena e Manuel de Sousa e o aniquilar de valores incutidos em Maria.
   Garrett procura, através desta obra, evidenciar a necessidade de uma mudança ao nível das mentalidades (preocupação coerente com os seus ideais liberais) e do abandono de uma crença inútil num mito que estava a contribuir para a estagnação de Portugal. O patriotismo fossilizado, tendo como sustentáculo o hipotético regresso de D. Sebastião, impedia a regeneração do país pela acção. O saudosismo que redundava em passividade permitia, por um lado, que se acalentassem valores nacionais que originavam apatia, pelo conservadorismo. Com a situação de Maria e a sua morte «de vergonha» são as verdades convencionais que são questionadas, à maneira do romântico, que se rebela contra uma sociedade cuja alma se perdera no tempo.

  

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