O Sebastianismo
D. Sebastião considerava a cruzada sebástica
no Norte de África (a qual lhe ficou a dever a vida) uma missão peregrina de
reconquistar a terra dos infiéis, em nome de Deus, uma vez que se julgava
predestinado por Deus para a redenção dos infiéis. Assim, a cruzada sebástica
assumiria o valor de uma obra divina, isto é, seria levada a cabo em nome de
Deus e, simultaneamente, tornaria divinos os próprios portugueses.
Contudo, na obra Frei Luís de Sousa
constatamos que o mito Sebastianista assume uma conotação negativa corporizada
na personagem de Romeiro. Esta personagem simboliza o anti-herói e o elemento
destrutivo que, só pela sua presença, aniquila a harmonia de D. Madalena e de
Manuel de Sousa e conduz à morte de Maria, que «de vergonha» sucumbe, tal como
Portugal, perante a verdade cruel que significa a perda da identidade.
«Ninguém» é a resposta do Romeiro à questão formulada por Frei Jorge, resposta
que poderíamos associar a Maria, enquanto fruto de uma relação adúltera, e a
Portugal, enquanto país subjugado pelo domínio filipino. D. João assume, assim,
uma condição de antimito, uma vez que a sua presença enquanto duplo de D. Sebastião
não preconiza a salvação da nação, mas a destruição da hegemonia simbolizada
pela união entre D. Madalena e Manuel de Sousa e o aniquilar de valores
incutidos em Maria.
Garrett procura, através desta obra, evidenciar a necessidade de uma
mudança ao nível das mentalidades (preocupação coerente com os seus ideais
liberais) e do abandono de uma crença inútil num mito que estava a contribuir
para a estagnação de Portugal. O patriotismo fossilizado, tendo como
sustentáculo o hipotético regresso de D. Sebastião, impedia a regeneração do
país pela acção. O saudosismo que redundava em passividade permitia, por um
lado, que se acalentassem valores nacionais que originavam apatia, pelo
conservadorismo. Com a situação de Maria e a sua morte «de vergonha» são as
verdades convencionais que são questionadas, à maneira do romântico, que se
rebela contra uma sociedade cuja alma se perdera no tempo.
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