quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Perguntas e respostas tipo - Frei Luís de Sousa

Respostas-tipo
1.     Considera a segunda cena do I ato da obra Frei Luís de Sousa.
1.1.   Integra este excerto da obra na estrutura interna e externa.
Este excerto insere-se na cena II do acto I de Frei Luís de Sousa. D. Madalena estava a ler Os Lusíadas e a refletir sobre os amores fatídicos de D. Inês e D. Pedro, quando surge Telmo, que troca impressões com ela sobre a sua leitura e sobre Maria. Este último refere que Maria merecia ter nascido em melhor condição social e, aí, D. Madalena decide falar, pela primeira e última vez, do seu passado, expondo a Telmo a sua vida com D. João e todas as iniciativas que teve para o encontrar após a Batalha de Alcácer Quibir. Posteriormente D. Madalena pede a Telmo para não alimentar a crença sebástica em Maria, ao que ele acede, pois apercebe-se do mal que isso lhe pode causar. Seguidamente, pede a Telmo que vá ver o que Maria está a fazer e que tente saber com Frei Jorge o motivo da demora de Manuel de Sousa Coutinho, que começa a afligi-la. Posteriormente, Maria entra em cena solicitando que Telmo lhe conte a história de D. Sebastião, tal como lhe prometera.

1.2.   Caracteriza a personagem D. Madalena. Comprova a tua resposta com levantamentos textuais.
D. Madalena é uma personagem conotada, desde o início da obra, com a fatalidade que o amor pode causar ao ser humano, apresentando-se desta forma como a «mulher-demónio» dos românticos.
Neste excerto a personagem surge de duas formas completamente distintas pois, se por um lado se apresenta «numa atitude grave e firme», por outro lado mostra a sua fragilidade ao falar do seu passado e ao relembrar os agouros contínuos de Telmo.
Relativamente à primeira fase referida, D. Madalena mostra-se segura dirigindo-se a Telmo quando diz «Levantai-vos, Telmo, e ouvi-me. (…) …será a última vez que vos falo deste modo e em tal assunto.», começando assim a relatar toda a sua vida com D. João. Nesta firmeza denota-se uma necessidade de esclarecer todo o seu passado para que Telmo acredite na morte de D. João, por isso afirma «Mas agora deixai-me falar.». Ainda com este estado de espírito D. Madalena revela como reagiu à morte de D. João, como chorou «a sua perda, como [respeitou] a sua memória, como durante sete anos, incrédula a tantas provas e testemunhos de sua morte, o [fez] procurar por essas costas de Berbéria», o que revela a sua dedicação ao seu anterior marido. Deste modo, D. Madalena é numa mulher honrada e digna, que refez a sua vida ao lado do homem que amava, o que constitui a única vez que não seguiu os conselhos de Telmo, pois não ficou «resto de dúvida» em ninguém relativamente à morte de D. João (a não ser em Telmo).
A fragilidade da personalidade de D. Madalena surge encadeada com a sua suposta firmeza. Desta forma D. Madalena hesita na forma de tratamento a dar a D. João «amigo de meu senhor… de meu primeiro marido», o que revela o seu pouco à vontade a falar deste assunto, assim como a perturbação que ainda sente ao nomear o seu antigo marido. Esta fragilidade é preponderante quando afirma e reforça a ideia de ter ficado «só», «viúva, órfã e sem ninguém… sem ninguém, e numa idade… dezassete anos!», e a sua necessidade de protecção que só encontrou nos braços de Telmo, razão pela qual lhe tem «obedecido como filha». Ao assumir o tormento em que tem vivido por causa da crença cega de Telmo, assume também o seu carácter em permanente desassossego.
Podemos concluir que D. Madalena é uma mulher com uma personalidade um pouco inconstante, uma vez que se existem momentos em que tenta ser altiva, na sua génese é completamente dominada pelo sentimento, sofrimento e terror do seu passado, causado, principalmente, por Telmo.      

1.3.   Relaciona o tempo da ação presente na fala de D. Madalena “ Dúvida de fiel (...) vinte e um anos.” com a sua simbologia.
D. Madalena refere nesta fala  a passagem do tempo desde o desaparecimento de D. João «sete… e hoje mais catorze… vinte e um anos». Esta referência temporal tem uma grande simbologia na obra, uma vez que o tempo é contado por espaços de sete anos, número conotado com acontecimentos trágicos pelos românticos. Neste momento da ação esta contagem é feita por três vezes, perfazendo um total de vinte e um anos. O facto do número sete ser contabilizado três vezes, remete-nos também para a simbologia do número três, que se relaciona com a perfeição, assim o momento em que se passa a ação é altamente simbólico e trágico, uma vez que significa a tragédia perfeita, constituindo, deste modo um dos maiores indícios trágicos de toda a obra.

1.4.   Fundamenta a tua resposta Identifica características clássicas e românticas presentes neste excerto.
Nesta cena, no que respeita aos aspectos clássicos, assiste-se ao desafio (Hybris) de Telmo, excedendo as suas funções de aio e escudeiro, a expor a sua afinidade por Maria, que segundo ele, é maior que os próprios pais desta e a sua afirmação de que Maria é filha ilegítima. Esta postura provoca um conflito (Agon) entre este e D.Madalena. Esta situação agrava, igualmente, o conflito interior de D.Madalena, patente no seu sofrimento (pathos) por causa da incerteza da morte do primeiro marido. O próprio Telmo também sofre com esta dúvida e com a hesitação entre a fidelidade a D.João de Portugal e a Manuel de S. Coutinho e ao seu amor por Maria.  Quanto aos aspectos românticos, nesta cena existe uma exaltação ao nacionalismo/ patriotismo, na referência de Telmo a que todos os livros deveriam estar escritos em português, de forma a que fossem entendidos por “toda a gente”. D. Madalena refere-se ainda às “malquerenças entre castelhanos e portugueses”, reafirmando o seu espírito patriótico. A crença em agouros e superstições por parte de Telmo, que alimenta a crença no sebastianismo, ou seja acredita que o seu amo, D.João de Portugal haveria de voltar para cumprir o que deixara escrito naquela carta e a caracterização de D. Madalena como uma “mulher-demónio” causadora da perdição da sua família por sobrepor os seus sentimentos (paixão incontrolada por Manuel de Sousa Coutinho) à própria razão são outros dos aspectos românticos presentes na cena.

1.5.   Aponta os indícios trágicos presentes nesta cena.
1.6.   A crença no mito sebastianista, de que D. João de Portugal, tal como o próprio rei D. Sebastião, regressaria para retomar o seu lugar na família, terminando com o atual casamento de D. Madalena e levando Maria à morte por causa da vergonha. A presença de elementos simbólicos que remetem para o destino trágico daquela família (sobretudo, os números). A aparente acalmia das condições atmosféricas que indiciam uma situação trágica, já que “neste tempo não há que fiar no Tejo.”.

1.7.   Atenta na seguinte frase de D. Madalena: «Depois que fiquei só, depois daquela funesta jornada de África que me deixou viúva, órfã e sem ninguém...».
1.7.1. Identifica um recurso estilístico presente na frase e refere a sua expressividade.

A enumeração, dupla adjetivação e gradação existente na frase: «Depois que fiquei só, depois daquela funesta jornada de África que me deixou viúva, órfã e sem ninguém...», reforça o estado de desespero e solidão em que ficou D. Madalena após o desaparecimento de D. João. Na realidade ela viu-se «sem ninguém», completamente sozinha no mundo e desamparada. Este(s) recurso(s) estilístico(s) pretende acentuar o estado de espírito da personagem neste momento da sua vida.

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