Respostas-tipo
1. Considera a segunda cena do
I ato da obra Frei Luís de Sousa.
1.1.
Integra este excerto da
obra na estrutura interna e externa.
Este excerto insere-se na
cena II do acto I de Frei Luís de Sousa. D. Madalena estava a ler Os Lusíadas
e a refletir sobre os amores fatídicos de D. Inês e D. Pedro, quando surge
Telmo, que troca impressões com ela sobre a sua leitura e sobre Maria. Este
último refere que Maria merecia ter nascido em melhor condição social e, aí, D.
Madalena decide falar, pela primeira e última vez, do seu passado, expondo a
Telmo a sua vida com D. João e todas as iniciativas que teve para o encontrar
após a Batalha de Alcácer Quibir. Posteriormente D. Madalena pede a Telmo para
não alimentar a crença sebástica em Maria, ao que ele acede, pois apercebe-se
do mal que isso lhe pode causar. Seguidamente, pede a Telmo que vá ver o que
Maria está a fazer e que tente saber com Frei Jorge o motivo da demora de
Manuel de Sousa Coutinho, que começa a afligi-la. Posteriormente, Maria entra
em cena solicitando que Telmo lhe conte a história de D. Sebastião, tal como
lhe prometera.
1.2.
Caracteriza a personagem D.
Madalena. Comprova a tua resposta com levantamentos textuais.
D. Madalena é uma personagem conotada, desde o
início da obra, com a fatalidade que o amor pode causar ao ser humano,
apresentando-se desta forma como a «mulher-demónio» dos românticos.
Neste excerto a personagem surge de duas formas
completamente distintas pois, se por um lado se apresenta «numa atitude grave e
firme», por outro lado mostra a sua fragilidade ao falar do seu passado e ao
relembrar os agouros contínuos de Telmo.
Relativamente à primeira fase referida, D. Madalena
mostra-se segura dirigindo-se a Telmo quando diz «Levantai-vos, Telmo, e
ouvi-me. (…) …será a última vez que vos falo deste modo e em tal assunto.»,
começando assim a relatar toda a sua vida com D. João. Nesta firmeza denota-se
uma necessidade de esclarecer todo o seu passado para que Telmo acredite na
morte de D. João, por isso afirma «Mas agora deixai-me falar.». Ainda com este
estado de espírito D. Madalena revela como reagiu à morte de D. João, como
chorou «a sua perda, como [respeitou] a sua memória, como durante sete anos,
incrédula a tantas provas e testemunhos de sua morte, o [fez] procurar por
essas costas de Berbéria», o que revela a sua dedicação ao seu anterior marido.
Deste modo, D. Madalena é numa mulher honrada e digna, que refez a sua vida ao
lado do homem que amava, o que constitui a única vez que não seguiu os
conselhos de Telmo, pois não ficou «resto de dúvida» em ninguém relativamente à
morte de D. João (a não ser em Telmo).
A fragilidade da personalidade de D. Madalena surge
encadeada com a sua suposta firmeza. Desta forma D. Madalena hesita na forma de
tratamento a dar a D. João «amigo de meu senhor… de meu primeiro marido», o que
revela o seu pouco à vontade a falar deste assunto, assim como a perturbação
que ainda sente ao nomear o seu antigo marido. Esta fragilidade é preponderante
quando afirma e reforça a ideia de ter ficado «só», «viúva, órfã e sem ninguém…
sem ninguém, e numa idade… dezassete anos!», e a sua necessidade de protecção
que só encontrou nos braços de Telmo, razão pela qual lhe tem «obedecido como
filha». Ao assumir o tormento em que tem vivido por causa da crença cega de
Telmo, assume também o seu carácter em permanente desassossego.
Podemos concluir que D. Madalena é uma mulher com
uma personalidade um pouco inconstante, uma vez que se existem momentos em que
tenta ser altiva, na sua génese é completamente dominada pelo sentimento,
sofrimento e terror do seu passado, causado, principalmente, por Telmo.
1.3.
Relaciona o tempo da ação
presente na fala de D. Madalena “ Dúvida de fiel (...) vinte e um anos.” com a
sua simbologia.
D.
Madalena refere nesta fala a passagem do
tempo desde o desaparecimento de D. João «sete… e hoje mais catorze… vinte e um
anos». Esta referência temporal tem uma grande simbologia na obra, uma vez que
o tempo é contado por espaços de sete anos, número conotado com acontecimentos
trágicos pelos românticos. Neste momento da ação esta contagem é feita por três
vezes, perfazendo um total de vinte e um anos. O facto do número sete ser
contabilizado três vezes, remete-nos também para a simbologia do número três,
que se relaciona com a perfeição, assim o momento em que se passa a ação é
altamente simbólico e trágico, uma vez que significa a tragédia perfeita,
constituindo, deste modo um dos maiores indícios trágicos de toda a obra.
1.4.
Fundamenta a tua resposta Identifica características
clássicas e românticas presentes neste excerto.
Nesta
cena, no que respeita aos aspectos clássicos, assiste-se ao desafio (Hybris) de
Telmo, excedendo as suas funções de aio e escudeiro, a expor a sua afinidade
por Maria, que segundo ele, é maior que os próprios pais desta e a sua
afirmação de que Maria é filha ilegítima. Esta postura provoca um conflito
(Agon) entre este e D.Madalena. Esta situação agrava, igualmente, o conflito
interior de D.Madalena, patente no seu sofrimento (pathos) por causa da
incerteza da morte do primeiro marido. O próprio Telmo também sofre com esta
dúvida e com a hesitação entre a fidelidade a D.João de Portugal e a Manuel de
S. Coutinho e ao seu amor por Maria.
Quanto aos aspectos românticos, nesta cena existe uma exaltação ao
nacionalismo/ patriotismo, na referência de Telmo a que todos os livros
deveriam estar escritos em português, de forma a que fossem entendidos por
“toda a gente”. D. Madalena refere-se ainda às “malquerenças entre castelhanos
e portugueses”, reafirmando o seu espírito patriótico. A crença em agouros e
superstições por parte de Telmo, que alimenta a crença no sebastianismo, ou
seja acredita que o seu amo, D.João de Portugal haveria de voltar para cumprir
o que deixara escrito naquela carta e a caracterização de D. Madalena como uma
“mulher-demónio” causadora da perdição da sua família por sobrepor os seus
sentimentos (paixão incontrolada por Manuel de Sousa Coutinho) à própria razão
são outros dos aspectos românticos presentes na cena.
1.5.
Aponta os indícios trágicos
presentes nesta cena.
1.6.
A crença no mito
sebastianista, de que D. João de Portugal, tal como o próprio rei D. Sebastião,
regressaria para retomar o seu lugar na família, terminando com o atual
casamento de D. Madalena e levando Maria à morte por causa da vergonha. A
presença de elementos simbólicos que remetem para o destino trágico daquela
família (sobretudo, os números). A aparente acalmia das condições atmosféricas
que indiciam uma situação trágica, já que “neste tempo não há que fiar no
Tejo.”.
1.7.
Atenta na seguinte frase de
D. Madalena: «Depois que fiquei só, depois daquela funesta jornada de África
que me deixou viúva, órfã e sem ninguém...».
1.7.1.
Identifica um recurso
estilístico presente na frase e refere a sua expressividade.
A
enumeração, dupla adjetivação e gradação existente na frase: «Depois que fiquei
só, depois daquela funesta jornada de África que me deixou viúva, órfã e sem
ninguém...», reforça o estado de desespero e solidão em que ficou D. Madalena
após o desaparecimento de D. João. Na realidade ela viu-se «sem ninguém»,
completamente sozinha no mundo e desamparada. Este(s) recurso(s) estilístico(s)
pretende acentuar o estado de espírito da personagem neste momento da sua vida.
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