domingo, 5 de janeiro de 2014

Garrett - lírico

NÃO TE AMO

Não te amo, quero-te: o amar vem d'alma.
   E eu n'alma --- tenho a calma,
   A calma --- do jazigo.
   Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
   E a vida - nem sentida
   A trago eu já comigo.
   Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
   De um querer bruto e fero
   Que o sangue me devora,
   Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
   Quem ama a aziaga estrela
   Que lhe luz na má hora
   Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
   De mau feitiço azado
   Este indigno furor.
   Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
   Que de mim tenho espanto,
   De ti medo e terror...
   Mas amar!... não te amo, não.

                       Almeida Garrett

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