O
Tempo
Num texto dramático, o tempo em
que decorre a ação é relativamente curto, na medida em que, na representação,
muito tempo transforma-se em pouco tempo, dada a sua tendência para a
concentração. O tempo de representação corresponde à duração da apresentação da
peça em palco e é variável (entre uma a três horas).
Tempo
da Diegese /ação
- Consiste no tempo durante o qual a acção se desenrola, segundo uma ordenação cronológica, e em que surgem marcas objectivas da passagem das horas, dias, meses, anos, etc.
Em Frei Luís de Sousa
- A ação passa-se:
- Ato I - no dia 28 de Julho de 1599 (oito dias antes do segundo acto, cuja acção se passa no dia em que faz anos que desapareceu D. Sebastião):
- Ao fim da tarde: «É no fim da tarde.» (didascálias no início do acto);
- «- Mas para onde iremos nós, de repente, a estas horas? » (Madalena) Cena VI;
- oito dias depois do Ato I: «[ ... ] Há oito dias que aqui estamos nesta casa [ ... ]. (Maria) Cena I;
- durante o dia: «[ ... ] Ainda bem que viestes; mas de dia!...» (Maria) Cena 11;
- numa sexta-feira: «-Sexta-feira!... Ai que é sexta-feira!» (Madalena) Cena V.
- Ato III - na madrugada de 5 de Agosto de 1599:
- É alta noite.' (didascália no inicio do acto); «[ ... ] São cinco horas, pelo alvor da manhã que já dá nos vidros da igreja .• (Jorge); «[ ... ] a luz desse dia que vem a nascer.' (Manuel) Cena I
Os antecedentes da ação situam a diegese no ano de
1599:
- antes de 1578 - casamento de Madalena com D. João de Portugal;
- 4 de Agosto de 1578 - Batalha de Alcácer Quibir; desaparecimento de D. Sebastião e de D. João de Portugal;
- de 1578 a 1585 (7 anos) - tentativas frustradas para encontrar D. João de Portugal: «[ ... ) durante sete anos, incrédula a tantas provas e testimunhos da sua morte, o fiz procurar por essas costas de Berberia ...» (Madalena) Acto I, Cena II;
- de 1585 a 1599 (14 anos):
- 1585 - Casamento de Madalena com Manuel de Sousa Coutinho: «[ ... ] eu resolvi-me por fim a casar com Manuel de Sousa [ ... ) vivemos [ ... ) seguros, em paz e felizes ... há catorze anos. [ ... ] » (Madalena) Acto I, Cena II;
- 1586 - Nascimento de Maria: «[ ... ) Tem treze anos feitos, é quase uma senhora, está uma senhora ...» (Madalena) Acto I, Cena II;
- de 1598 a 1599 - D. João de Portugal é libertado do cativeiro, onde viveu 20 anos: «[ ... ] morei lá [em Jerusalém] vinte anos cumpridos.»; «Há três dias que não durmo nem descanso nem pousei esta cabeça nem pararam estes pés dia nem noite, para chegar aqui hoje, para vos dar meu recado ...» ; «[ ... ) faz hoje um ano ... quando me libertaram [ ... ) » (Romeiro) Acto II, Cena XI;
- 1599 - ano em que decorre a acção, ou seja, 21 anos depois dos acontecimentos descritos: «[ ... ) a que se apegou essa vossa credulidade de sete ... e hoje mais catorze ... vinte e um anos? »(Madalena) Acto I, Cena II.
Tempo
Psicológico
• Trata-se de um tempo subjectivo, directamente relacionado com
as emoções, a problemática existencial das personagens, ou seja, a
forma como estas sentem a passagem do tempo, vivendo momentos
felizes elou infelizes.
Em Frei Luís de Sousa
• A acção desenrola-se rapidamente, havendo um crescendo
dramático acelerado, no qual os medos e ansiedades das personagens se tornam
cada vez mais evidentes, aumentando o seu sofrimento e a sua angústia face a
uma tragédia iminente e incontornável.
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Tempo
Histórico
• Relaciona-se com a
época ou período da História em que se desenrola a acção.
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Em Frei Luís de
Sousa
Referências/alusões
ao longo da obra:
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Simbolismo
de algumas referências temporais
* Sexta-feira
e a sua carga semântica negativa: dia considerado aziago e fatal para D.
Madalena: «Ai que é Sexta-feira» (II, 5) e «É um dia fatal para mim.» (II, 10)
* Coincidência ou não, todos os
acontecimentos marcantes da vida de D. Madalena ocorreram à Sexta-feira:
primeiro casamento, primeiro encontro com Manuel de Sousa Coutinho, Batalha de
alcácer Quibir e desaparecimento e regresso de D. João.
* Ambiente
crepuscular e/ou nocturno, caracteristicamente romântico:
- «É no fim da tarde...» -
didascália inicial do I acto
- «É noite fechada...» -
didascália I acto, cena 7
- «É alta noite...» - didascália
inicial do III acto.
* A preferência pelos ambientes nocturnos,
característica romântica, pode simbolizar a morte que se abaterá sobre a
família, mas também sublinha um certo aspecto transgressor que envolve toda a
história daquele núcleo familiar.
* A
permanência do número 7:
- 7 anos de procura de D. João;
- 14 anos de casamento com Manuel de Sousa
Coutinho (7+7)
- 21 anos desde o desaparecimento de D. João
(7+7+7)
* 7 é o símbolo de uma totalidade: 7 foram os
dias da criação do mundo, 7 são os pecados mortais e as virtudes que se lhe
opõem, 7 são os dias da semana, 7 são as cores do arco-íris...
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