terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Slideshare bloqueado

Queridos alunos e leitores anónimos,
quero informar-vos que os blogs "português-cad" foram alvo de uma acusação de copyright devido a vinte artigos que foram publicados e que pertencem a uma/duas editoras. Devo informar que essas publicações faziam referência explícita às editoras em questão, pelo que nunca houve uma tentativa dos blogs "português-cad" assumirem a propriedade intelectual desses documentos. Infelizmente, como consequência, todos os outros artigos publicados através do Slideshare (cerca de 650) ficaram bloqueados. Hei de resolver a questão. Para qualquer questão podem contactar - blog12cad@gmail.com

terça-feira, 2 de maio de 2017

Antero de Quental - poemas

NA MÃO DE DEUS

Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

Antero de Quental - poemas

A IDEIA
       
IV
       
Conquista, pois, sozinho o teu Futuro,
Já que os celestes guias te hão deixado,
Sobre uma terra ignota abandonado,
Homem -‑ proscrito rei ‑ mendigo escuro!

Se não tens que esperar do céu (tão puro
Mas tão cruel!) e o coração magoado
Sentes já de ilusões desenganado,
Das ilusões do antigo amor perjuro;

Ergue-te, então, na majestade estoica
De uma vontade solitária e altiva,
Num esforço supremo de 
alma heroicaFaze um templo dos muros da cadeia.
Prendendo a imensidade eterna e viva
No círculo de luz da tua Ideia!

Antero de Quental - poemas

NOX1

Noite, vão para ti meus pensamentos, 
Quando olho e vejo, à luz cruel do dia, 
Tanto estéril lutar, tanta agonia, 
E inúteis tantos ásperos tormentos... 

Tu, ao menos, abafas os lamentos, 
Que se exalam da trágica enxovia... 
O eterno Mal, que ruge e desvaria, 
Em ti descansa e esquece alguns momentos... 

Oh! Antes tu também adormecesses 
Por uma vez, e eterna, inalterável, 
Caindo sobre o Mundo, te esquecesses, 

E ele, o Mundo, sem mais lutar nem ver, 
Dormisse no teu seio inviolável, 
Noite sem termo, noite do Não-ser! 
    


1) Nox - noite