Personagens
D.
Madalena de Vilhena
Logo
na primeira cena D. Madalena é colocada na esfera dos amores míticos funestos,
em que os amantes se tornam vítimas do sentimento que nutrem. É dominada por
pressentimentos, temores e terrores, o que a caracteriza como nitidamente
romântica, já que os sentimentos superam a sua capacidade lógica e analítica.
Vive
em permanente desassossego, pânico, infelicidade (Pathos) e pelo imenso sentido
do dever, o que inibe a possibilidade de se sentir feliz, mesmo por que a sua
personalidade vulnerável e frágil, fá-la duvidar quanto à existência do seu primeiro marido (dúvida
alimentada pelas convicções de Telmo).
Sente-se
eternamente culpada por ter amado Manuel de Sousa quando ainda se encontrava
casada com D. João (Hybris), por isso é dominada pelo destino e pelo fatalismo,
vivendo toda a sua vida receando o aparecimento do seu primeiro marido, e
quando este aparece, disfarçado de Romeiro, não o reconhece.
È
uma personagem que vive muito para si, dentro dos seus problemas pessoais e da
sua família, não revelando outros interesses, o que transmite o ambiente social
do início do séc. XVII.
Manuel de Sousa Coutinho
Manuel de Sousa era um Cavaleiro
de Malta, o que o situa imediatamente na esfera do Bem. Os cavaleiros de Malta
dedicavam-se a uma obra que se dividia entre as acções de beneficência e
militar ao serviço da comunidade cristã.
Manuel
de Sousa tinha um carácter altruísta (humanitário, dedica-se a fazer o bem para
os outros) e patriótico, sempre zelou
pela integridade.
Apresenta,
contudo, duas facetas antagónicas: por um lado age como um ser dominado pelo
raciocínio, não acreditando nos pressentimentos de sua esposa e filha, e pelo
sentimento patriótico e liberal, o que o leva a incendiar o seu próprio palácio
(Hybris), impondo-se, sendo por isso livre nas suas resoluções; por outro lado,
no III acto, é assolado pelo desespero e pela culpa, ao constatar a situação de
ilegitimidade da sua filha e desonra de sua esposa. Assim, o seu sentimento da
honra e do dever, revela- -o
intransigente (o que já tinha acontecido relativamente ao incêndio) na decisão
imediata e incontestável de tomar o hábito.
Maria de Noronha
Maria
é um ser puro e frágil. É vítima de duas situações que não pode dominar: a
debilidade física devido à doença (tuberculose) e a condenação social como
filha ilegítima (após a chegada do Romeiro). A sua morte é a Catástrofe.
Ao
nível psicológico tem um desenvolvimento precoce. É adulta nas suas
preocupações sociais («Coitado do povo!» até «... amparo aos necessitados» I
acto, cena V) e pela cultura (leitura de Menina e Moça de Bernardim
Ribeiro).
Entusiasta, ávida de emoção e
de aventura, sonhadora, incarnava o ideal liberal, que se traduzia numa vontade
de transformar o mundo e lutar pela justiça social. A sua pureza e bondade
naturais conduzem-na, sob a influência de Telmo, a partilhar a esperança que
dominava os sebastianistas, pois encontrou no mito sebástico a sua forma de se
rebelar contra a opressão política e social que marcou o Portugal da época e de
acreditar numa sociedade dominada pela fraternidade, pela igualdade e pela
justiça.
Maria
é, ainda, a projecção da filha do autor devido à sua ilegitimidade e ao seu
carácter idealizado.
Telmo Pais
É
um fiel servidor de seus amos e condensa em si próprio o passado (ligação a D.
João), o presente (fidelidade à família de D. Madalena) e o futuro (antevisão
dos acontecimentos que se vieram a concretizar), encontrando-se dividido
sentimentalmente: por um lado, movido pela honra e pelo dever guarda uma
fidelidade absoluta a D. João; por outro dedica um amor extremoso a Maria o que
o leva a hesitar entre esta e D. João.
Ao nível da acção, pelos agouros e profecias
que caracterizam o seu discurso, desempenha um papel semelhante ao do coro das
tragédias clássicas, que tinha como função comentar a acção e indiciar o seu
desfecho trágico.
Naturalmente
é um sebastianista, pois crendo no regresso de D. João, acredita também em D.
Sebastião como o messias que viria salvar Portugal das garras dos espanhóis.
D. João de Portugal
A
sua ligação ao mito sebastianista é evidente, motivo pelo qual representa o
Portugal de outrora.
É
uma personagem sempre presente ao longo da peça. Toma diversas formas:
personagem apenas referida; personagem simbólica, sempre presente nos agouros;
personagem ligada ao sebastianismo; e personagem “equívoco”/“disfarce”,,
responsável pela Peripécia e Agnorisis e como motor e desfecho do conflito
dramático.
D.
João, provoca a Catástrofe inconscientemente, uma vez que, depois de vinte e um
anos de cativeiro, regressa a casa, com a intenção de reaver a sua posição e
encontra a sua mulher casada com outro homem. Neste momento da peça nota-se o
seu elevado carácter moral, pois, uma vez constatados os inúmeros esforços
empreendidos por sua esposa para o encontrar, renuncia ao seu lugar, pedindo a
Telmo que informe a família que o Romeiro não passava de um impostor.
Frei Jorge
É
frade domínico e irmão de Manuel de Sousa. É a personagem mediadora e
apaziguadora, que procura tranquilizar as outras personagens através do consolo
cristão e da fé como aceitação de todas as coisas.
Assume
o papel de confidente, o que o leva a manifestar-se sobre os acontecimentos e
pressente o desenlace trágico (II acto, cena IX – monólogo), o que lhe confere,
à semelhança de Telmo, a função do coro da Tragédia Grega.
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