O Espaço
O espaço não se resume apenas ao lugar onde o(s) evento(s) se
realiza(m), mas possui também uma dimensão social e psicológica importante para
a interpretação textual.
Espaço
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Frei Luís
de Sousa
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Físico
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• Consiste no espaço real geográfico,
interior e exterior onde os acontecimentos ocorrem (cenário) e no qual os
jogos de luz I acústicos e a decoração assumem extrema importância
• No texto dramático é, normalmente,
caracterizado
pelas didascálias que antecedem cada
acto e que fornecem informações imprescindíveis para a construção de cenários
e ambientes.
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Acto I – Palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em
Almada:
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Luxo
e elegância da época;
-
Porcelanas,
charões, sedas, flores, etc;
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Duas
grandes janelas de onde se avista o Tejo e Lisboa;
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Retrato
de Manuel de Sousa Coutinho vestido com o hábito da Ordem de S. João de
Jerusalém;
-
Comunicação
com o exterior e o interior do palácio.
Ä Este espaço simboliza a paz e a aparente
harmonia que dominam a família. No entanto o incêndio (final do I acto) e a
destruição do retrato de Manuel de Sousa Coutinho são já um prenúncio da
catástrofe final.
Acto II- Palácio de D. João de Portugal:
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salão
antigo de gosto melancólico e pesado;
-
retratos
de família e, em destaque, os de D. Sebastião, D. João de Portugal e de
Camões;
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reposteiros
que impedem a vista para o exterior e a entrada de luz;
-
comunica
com a capela da S.ª da Piedade.
Ä Este salão está imbuído de uma forte
carga simbólica, não só pela quase ausência de luz pressagiadora da
catástrofe final, mas também pelos retratos que, para além do aspecto
nacionalista que transmitem (D. Sebastião e Camões), evocam um passado
ameaçador que inviabiliza o presente e, também o futuro.
Acto III - Parte baixa do palácio de D. João de
Portugal:
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lugar
vasto e sem ornato algum;
-
comunica
com a capela da S.ª da Piedade;
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decorado
com símbolos de morte (esquife) e de dor (cruz, ornamentos característicos da
Semana Santa);
-
existência
de um hábito religioso.
Ä os espaços foram-se progressivamente
obscurecendo e afunilando, tornando-se severos e despojados. Este último
local é bem o símbolo da morte, e da impossibilidade de a superar, já que é a
única saída para uma família católica que assume as suas convicções
religiosas e sociais de forma clara e rígida, é a renúncia ao mundo e à luz.
Ä o espaço assume desde o início um
carácter pressagiador do desenlace final, contribuindo também para a
intensificação progressiva da tensão dramática.
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Aludido
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• Trata-se do espaço apenas referido
nas falas das personagens.
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Trata-se de um espaço fechado.
• «É certo que tive notícias de Lisboa ...»
(Frei Jorge) Acto I, Cena V.
• «... aquele teu amigo com quem tu andaste lá pela India ...»
(Maria) Acto II, Cena I.
•«... vem de Roma e dos
santos--Lugares .» / «... vem da Palestina ...» (Míranda) Acto II, Cena XI.
•«... éreis cativo em Jerusalém?» (Madalena) Acto II, cena XlV.
•«... Ievaram·no aí de onde? ... de Africa?» (Madalena) .De
Alcácer Quibir (Romeiro) Acto li, Cena XIV.
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Social
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• Tem a ver com o ambiente social
vivido pelas personagens e cujos traços ilustram a atmosfera social em que se
movimentam.
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· A opressão exercida pelo domínio
filipino (que levou Manuel de Sousa Coutinho a incendiar o próprio palácio).
• O culto sebastianista (é o regresso de D. João que provoca a
destruição de toda a família).
• A questão da ilegitimidade de Maria (que origina a condenação
de uma família).
• O domínio da crença religiosa cristã patente no espaço/comportamento
das personagens, surgindo como consolo e refúgio para o seu sofrimento.
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Psicológico
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• Corresponde às vivências íntimas,
pensamentos, sonhos, estados de espírito, memórias, reflexões ... das
personagens e que caracterizam o ambiente a elas associado.
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• Os
monólogos, nomeadamente, de Madalena (Acto I, Cena I), de Manuel de Sousa
Coutinho (Acto I, Cena VIII), de Frei Jorge (Acto 11, Cena IX), de Teimo
(Acto III, Cena IV) e os sonhos de Maria (Acto I, Cena IV; Acto 111, Cena XI)
retratam claramente o espaço psicológico da peça.
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