quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Espaço - Frei Luís de Sousa

O Espaço
O espaço não se resume apenas ao lugar onde o(s) evento(s) se realiza(m), mas possui também uma dimensão social e psicológica importante para a interpretação textual.

Espaço

Frei Luís de Sousa

Físico
• Consiste no espaço real ­geográfico, interior e exterior ­onde os acontecimentos ocorrem (cenário) e no qual os jogos de luz I acústicos e a decoração assumem extrema importância



• No texto dramático é, normalmente, caracterizado
pelas didascálias que antecedem cada acto e que fornecem informações imprescindíveis para a construção de cenários e ambientes.
Acto IPalácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada:
-        Luxo e elegância da época;
-        Porcelanas, charões, sedas, flores, etc;
-        Duas grandes janelas de onde se avista o Tejo e Lisboa;
-        Retrato de Manuel de Sousa Coutinho vestido com o hábito da Ordem de S. João de Jerusalém;
-        Comunicação com o exterior e o interior do palácio.
Ä Este espaço simboliza a paz e a aparente harmonia que dominam a família. No entanto o incêndio (final do I acto) e a destruição do retrato de Manuel de Sousa Coutinho são já um prenúncio da catástrofe final.
Acto II- Palácio de D. João de Portugal:
-        salão antigo de gosto melancólico e pesado;
-        retratos de família e, em destaque, os de D. Sebastião, D. João de Portugal e de Camões;
-        reposteiros que impedem a vista para o exterior e a entrada de luz;
-        comunica com a capela da S.ª da Piedade.
Ä Este salão está imbuído de uma forte carga simbólica, não só pela quase ausência de luz pressagiadora da catástrofe final, mas também pelos retratos que, para além do aspecto nacionalista que transmitem (D. Sebastião e Camões), evocam um passado ameaçador que inviabiliza o presente e, também o futuro.
Acto III - Parte baixa do palácio de D. João de Portugal:
-        lugar vasto e sem ornato algum;
-        comunica com a capela da S.ª da Piedade;
-        decorado com símbolos de morte (esquife) e de dor (cruz, ornamentos característicos da Semana Santa);
-        existência de um hábito religioso.
Ä os espaços foram-se progressivamente obscurecendo e afunilando, tornando-se severos e despojados. Este último local é bem o símbolo da morte, e da impossibilidade de a superar, já que é a única saída para uma família católica que assume as suas convicções religiosas e sociais de forma clara e rígida, é a renúncia ao mundo e à luz.
Ä o espaço assume desde o início um carácter pressagiador do desenlace final, contribuindo também para a intensificação progressiva da tensão dramática.

Aludido
• Trata-se do espaço apenas referido nas falas das personagens.


Trata-se de um espaço fechado.

• «É certo que tive notícias de Lisboa ...»
(Frei Jorge) Acto I, Cena V.
• «... aquele teu amigo com quem tu andaste lá pela India ...» (Maria) Acto II, Cena I.

 •«... vem de Roma e dos santos--Lugares .» / «... vem da Palestina ...» (Míranda) Acto II, Cena XI.

•«... éreis cativo em Jerusalém?» (Madalena) Acto II, cena XlV.

•«... Ievaram·no aí de onde? ... de Africa?» (Madalena) .De Alcácer Quibir (Romeiro) Acto li, Cena XIV.
Social
• Tem a ver com o ambiente social vivido pelas personagens e cujos traços ilustram a atmosfera social em que se movimentam.


· A opressão exercida pelo domínio filipino (que levou Manuel de Sousa Coutinho a incendiar o próprio palácio).

• O culto sebastianista (é o regresso de D. João que provoca a destruição de toda a família).

• A questão da ilegitimidade de Maria (que origina a condenação de uma família).

• O domínio da crença religiosa cristã patente no espaço/comportamento das personagens, surgindo como consolo e refúgio para o seu sofrimento.

Psicológico
• Corresponde às vivências íntimas, pensamentos, sonhos, estados de espírito, memórias, reflexões ... das personagens e que caracterizam o ambiente a elas associado.

• Os monólogos, nomeadamente, de Madalena (Acto I, Cena I), de Manuel de Sousa Coutinho (Acto I, Cena VIII), de Frei Jorge (Acto 11, Cena IX), de Teimo (Acto III, Cena IV) e os sonhos de Maria (Acto I, Cena IV; Acto 111, Cena XI) retratam claramente o espaço psicológico da peça.


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