Na era do virtual, ir à biblioteca e consultar fisicamente obras e materiais de apoio é algo que caiu em desuso. Aqui, poderão encontrar aquelas informações que podem fazer toda a diferença no vosso estudo.
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Crónicas a propósito d'Os Maias
E mais Eça
Carlos voltou para a cama e, feliz, recostou-se a
fumar um cigarro lânguido. Minto: era um cigarro açoriano. Os lânguidos tinham
acabado na véspera.
Ao longo das últimas semanas, o Expresso pediu a vários autores que
escrevessem uma continuação de Os Maias, de Eça de Queirós, no âmbito de uma
iniciativa intitulada Eça Agora. A VISÃO, sempre à frente da imprensa
portuguesa em geral e do Expresso em particular, publica hoje um texto em que
eu continuo e termino não apenas Os Maias, mas também A Relíquia, O Crime do
Padre Amaro e O Primo Basílio. Talvez assim o Expresso aprenda a ser um pouco
mais ambicioso e faça um esforço para passar a oferecer mais e melhor aos seus
leitores.)
Carlos da Maia acordou cansado e dorido. Na véspera, pouco depois de
manifestar um fastio pela vida que o impedia até de estugar o passo para se
apropriar de um tesouro, por maior que fosse, largara a correr para apanhar um
táxi. E agora, o homem que as gazetas designavam por sportman, estava exausto
por causa de uma corrida. Carlos começava a aborrecer-se com as ironiazinhas do
narrador, e sonhava com recursos estilísticos que lhe magoassem menos as
pernas.
Sentou-se na cama a reflectir na teoria da vida que desenvolvera com
Ega, na noite anterior, e foi tomado por um desencanto profundo que, um século
mais tarde, iria simultaneamente entusiasmar o prof. Carlos Reis e enfadar
gerações inteiras de alunos do 9.º ano de escolaridade. Era uma espécie de
fatalismo, próprio de um homem que deixara de ter esperança na vida e no ser
humano, depois de o mundo ter considerado um tanto grotesco o seu entendimento
do conceito de fraternidade, no qual ele se empenhara bastante.
Mas a meio da manhã, quando tudo parecia vão e sem sentido, um criado
entrou no quarto com uma carta de Maria Eduarda. Eram grandes novidades. Já não
iria casar com Mr. de Trelain, mas sim com o Primo Basílio, um cavalheiro que
também morava em França. Era um homem que, sendo primo, estava apto a saciar o
seu desejo de manter relações carnais com familiares próximos, que o amor com
Carlos viera acender, mas não era verdadeiramente primo dela, pelo que se
evitava não só o estigma social mas também a possibilidade de ter filhos que
achassem graça àqueles programas com vídeos retirados da internet.
Carlos levantou-se de um salto, por lhe parecer que o mundo podia
começar a consertar-se assim, em passos lentos mas firmes. Pegou na gazeta e
leu, com ânimo cada vez maior: "Celebra-se hoje, em Leiria, o casamento do
Padre Amaro com a Dona Maria do Patrocínio." Era a tia de Teodorico
Raposo, um janota com o qual se cruzara no Egipto. Mais uma vez, o mundo
compunha-se: o padre Amaro contraía matrimónio, como desejava, mas não ficava
sem castigo, consistindo este, sem dúvida, na contemplação frequente da nudez
da velha. E a Titi encontrava companhia num membro do clero, o que era ao mesmo
tempo santo e pecaminoso, que é como as coisas sabem melhor.
Carlos voltou para a cama e, feliz, recostou-se a fumar um cigarro
lânguido. Minto: era um cigarro açoriano. Os lânguidos tinham acabado na
véspera.
Ricardo Araújo Pereira
in Visão, Quinta feira, 19 de Setembro de 2013
Crónicas a propósito d'Os Maias
Bom dia. 174 pessoas gostam disto
Sou filho único, mas houve um tempo em que desejei
muito ter uma irmã. Foi quando, aos 14 anos, li Os Maias e percebi que dois
irmãos podem divertir-se imenso
Eu sou filho único, mas houve um tempo em que desejei muito ter uma irmã. Foi quando, aos 14 anos, li Os Maias e percebi que dois irmãos podem divertir-se imenso. Após a leitura da obra de Eça de Queirós, compreendi a razão pela qual a fraternidade é um valor tão prezado. Os clássicos iluminam-nos, não há dúvida nenhuma. No entanto, nem todos os leitores podem ter a minha sensibilidade, e por isso é natural que o livro não comova toda a gente como me comoveu a mim. A Fnac acaba de lançar uma campanha que sugere: "Troque Os Maias pela Mayer". O anúncio gerou tanto sarrabulho no Facebook que foi rapidamente retirado. Este caso tem tamanha quantidade de factos a exigir reflexão que até tenho medo que me faça mal.
Primeiro, deve assinalar-se que uma campanha tem de ser mesmo muito
canhestra para ser reprovada no Facebook. As pessoas do Facebook são, em geral,
fáceis de agradar: declaram amizade umas às outras sem dificuldade nenhuma e
qualquer proclamação simples como, por exemplo, "Ui, está tanto frio!",
pode receber centenas de polegares aprovadores. Não é fácil irritar gente
desta. E, ainda assim, a Fnac conseguiu-o.
Ora, a campanha não era assim tão má. Diz-se que a Fnac propunha um
péssimo negócio ao cliente. Como um supermercado que dissesse: "Troque dois
quilos de bife do lombo por uma lata de salsichas." Mas o anúncio não
referia a quem pertenciam Os Maias e "a Mayer". Quem disse que é o
cliente que entrega Os Maias e a Fnac que dá "a Mayer", e não o
contrário? A campanha propõe uma troca. Tanto pode ser "Troque os seus
Maias pela nossa Mayer" como "Troque os nossos Maias pela sua
Mayer". Se nos perguntam: "Queres trocar dois quilos de lombo por uma
lata de salsichas?", a resposta correcta é: "Sim, onde é que eu entrego
a minha lata de salsichas?"
Além do mais, a troca faz especial sentido. Quem conhece Os Maias e a
obra de Stephenie Mayer não pode deixar de verificar uma tautologia evidente.
De acordo com a sinopse fornecida pela Wikipédia, os livros de Mayer contam a
história de um vampiro vegetariano. É natural que quem tomou contacto com Os
Maias apenas através dos apontamentos Europa-América ainda não tenha dado conta
da semelhança. Para esses, desvendo um pouco mais do enredo. Sucede que o
vampiro se apaixona por uma rapariga por cujo sangue se sente muitíssimo
atraído - o que é problemático, uma vez que ela poderia levar a mal que ele lhe
cravasse os dentes no pescoço para lhe beber o sangue. Sabe-se como são as
mulheres: qualquer pequena coisa as pode indispor. Ou seja, temos um rapaz que
se interessa por uma rapariga e o sangue dela constitui um problema.
Exactamente a mesma história de Carlos e Maria Eduarda da Maia.
Ricardo Araújo Pereira
in Visão, Quinta feira, 9 de Fevereiro de 2012
Os Maias - Contextualização histórico-cultural
Eça
de Queirós - Os Maias
Contextualização histórico-cultural
Segunda metade do século XIX
Crise da implantação do liberalismo em
Portugal
Final do Romantismo
·
1865 –
Questão Coimbrã:
o polémica entre Feliciano de Castilho e
Antero de Quental que culmina na carta deste último intitulada «Bom Senso e Bom
Gosto».
o Manifestação de rebeldia da geração
intelectual que se formara em Coimbra contra Castilho e o Ultra-Romantismo.
Chefiam o conflito Antero de Quental, Eça de Queirós e Oliveira Martins;
·
Geração de 70.
o procura fazer uma revolução cultural através
da revisão de valores; transformação política, económica e religiosa; reformar
os estilos de literatura e de vida;
o Surge uma nova poesia contra os conceitos
vigentes de cariz literário, mas também político, histórico e filosófico;
o visava a reforma cultural ao nível dos
valores, da literatura e da própria vida portuguesa, aproximando-a do modelo
europeu.
o figuras proeminentes desta geração foram
Antero de Quental, Eça de Queirós e Oliveira Martins. Destacam-se numa
perspectiva secundária, Ramalho Ortigão, Teófilo Braga, Gomes Leal, Guerra
Junqueiro, Jaime Batalha Reis, Guilherme de Azevedo, Alberto Sampaio, Adolfo
Coelho, Augusto Soromenho;
o os mentores desta geração, ao promoverem uma
autêntica revolução cultural, permitiram a abertura de um caminho para o
progresso do país nas suas variadas áreas.
·
1871 –
Conferências Democráticas do Casino Lisbonense
o realizadas na Primavera de 1871 pelo grupo
do Cenáculo: artistas e literatos que trazem de Coimbra para Lisboa a boémia e
a inquietação política e social que culminaria nas Conferências Democráticas;
o pretendem aproximar Portugal do mundo
moderno, para que se estudassem as condições de transformação política,
económica e religiosa da sociedade portuguesa;
o estas conferências visavam alertar para os
vários problemas responsáveis pela decadência do país e seu afastamento da
Europa culta; promover conferências sobre as ideias que vigoravam na Europa, de
forma a modernizar o país e agitar a opinião pública;
o Inicialmente, estavam projetadas 20
conferências, mas apenas se realizaram 5, uma vez que o Governo mandou encerrar
a sala e proibiu a realização das restantes, «por ofenderem clara e diretamente
as leis do Reino».
- Algumas
características apontadas por Eça na 4ª conferência intitulada «o realismo
como nova expressão da arte»:
- a
negação da arte pela arte;
- a
proscrição do convencional, do enfático, do piegas;
- a
abolição da retórica oca;
- a
reação contra o Romantismo;
- a
análise com o objectivo de encontrar a verdade absoluta;
- a
anatomia do carácter, a crítica do homem com o objectivo de distinguir o
falso do verdadeiro e de condenar o que de negativo a sociedade revela,
assumindo-se, assim, como uma didática de comportamento social.
·
Realismo:
o Nova corrente artística que pretende cortar
com o sentimentalismo;
o Negação da arte pela arte;
o Observação fria e objectiva da realidade;
o Análise psicológica das personagens,
determinada por três factores: hereditariedade, educação e meio;
o Crítica de costumes e reforma social.
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