Lê o excerto da página
20 d’ Os Maias (edições Brasil) desde «Esta carolice que o cercava…» até
«… teve o seu bastardozinho.».
1.
– Insere o excerto na globalidade da
obra.
Este
excerto insere-se no capítulo I do romance Os Maias de Eça de Queirós
fazendo parte da intriga secundária. Após a família Maia ter regressado a
Portugal do seu exílio em Inglaterra, Maria Eduarda Runa adoece, o que transforma
o Ramalhete num exemplo de catolicismo «lançando Afonso num ateísmo rancoroso».
Este excerto revela essencialmente a caracterização de Pedro da Maia, que
«estava quase um homem» e a dependência que existia entre ele e a mãe.
Posteriormente Maria Runa morre e Pedro fica durante muitos meses numa agonia
profunda.
2.
– Caracteriza a personagem Pedro da Maia.
Justifica e comprova a tua resposta com levantamentos textuais.
Pedro da
Maia é filho de Maria Runa e Afonso da Maia e protagoniza a intriga secundária
da obra, sendo um exemplo da fatalidade da educação à portuguesa. (introdução)
Neste
excerto Pedro é caracterizado como um homem frágil «tendo pouco da raça, da
força dos Maias», parecendo-se mais à sua mãe, Maria Eduarda Runa, por ser
«pequenino e nervoso» e extremamente sensível, estando os seus «olhos
maravilhosos e irresistíveis, sempre prontos a humedecer-se». Para além disso a
«sua linda face oval de um trigueiro cálido (…) faziam-no assemelhar a um belo
árabe», mas também a um típico português pelo seu rosto «trigueiro cálido».
Esta
debilidade física traduz-se numa grande passividade e relaciona-se com o tipo
de educação que Pedro teve e também com a sua própria personalidade
«indiferente» a todos os interesses próprios de um rapaz da sua idade, por isso
«nenhum desejo forte parecera jamais vibrar naquela alma adormecida e passiva»
à excepção da sua vontade de «voltar para a Itália». Toda esta caracterização
resume-se ao seu ser «fraco», propício a «crises de melancolia negra», que o
faziam parecer mais «velho», e à sua dependência da mãe. (desenvolvimento)
Em suma,
Pedro da Maia apresenta uma caracterização tipicamente naturalista, já que é
condicionado pelas influências de hereditariedade, do meio e da educação.
(conclusão)
3.
– Refere três marcas estético-literárias
queirosianas e indica a sua expressividade.
Eça de
Queirós é um exímio prosador tendo uma linguagem e estilo muito próprios e
expressivos, por isso escolhe criteriosamente as palavras que utiliza.
Neste
excerto podemos encontrar a utilização expressiva do adjetivo, verbo,
diminutivo e advérbio.
Relativamente
ao adjetivo, em expressões como «olhos maravilhosos e irresistíveis», «alma
meio adormecida e passiva», «sentimento vivo, intenso» e «o traziam dias e dias
mudo, murcho, amarelo», que se traduzem em duplas e tripla adjectivação, há um
reforço à caracterização do substantivo com o qual os adjetivos se relacionam,
mostrando as duas faces dessa realidade: a objetiva e a subjetiva, ou seja uma
nota mais concreta e outra mais emocional ou valorativa, de modo a conseguir
uma descrição mais fiel e expressiva, sendo muitas vezes crítica. A primeira,
segunda e quarta adjectivação acima transcritas pretendem reforçar a
personalidade de Pedro, demonstrando a sua fragilidade e passividade perante a
vida, já a terceira realça a dependência existente entre ele e a mãe, já que o
seu amor por ela era o único «sentimento vivo, intenso» que ele tinha.
A
utilização do verbo no infinitivo em «Nenhum desejo forte parecera jamais
vibrar naquela alma» intensifica e noção de fraqueza de espírito de Pedro e
desprendimento da própria vida, uma vez que este nunca teve um «desejo forte»
que fizesse «vibrar» a sua «alma». Já a utilização do gerúndio, como em «balbuciando
e tremendo» prolonga a ação, fazendo crer ao leitor que, neste caso, Maria
Eduarda Runa sofreu continuamente com a possibilidade de ver o filho ir para
Coimbra, pois não se queria separar dele.
No que
diz respeito ao diminutivo é utilizado por Eça de Queirós, fundamentalmente,
com um sentido irónico e pejorativo, embora também surja para dar a noção de
pequenez. Neste excerto encontramo-lo em «Pedrinho» e «pequenino», duas
palavras que caracterizam a personagem Pedro e que intensificam a fragilidade
do filho de Afonso da Maia que, embora já sendo «quase um homem», é nomeado
pelo diminutivo, como se de uma criança se tratasse.
Finalmente
o advérbio «lentamente», que assume o valor de adjetivo na caracterização do
desenvolvimento de Pedro, dá, naturalmente também, a noção do modo como esse desenvolvimento
se foi fazendo, tendo sido muito devagar.
(A
pergunta só pedia três, no entanto coloquei aqui todas as existentes no
excerto.)
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