quarta-feira, 12 de março de 2014

Perguntas e respostas-modelo - Os Maias

Lê o excerto da página 20 d’ Os Maias (edições Brasil) desde «Esta carolice que o cercava…» até «… teve o seu bastardozinho.».

1.     – Insere o excerto na globalidade da obra.
Este excerto insere-se no capítulo I do romance Os Maias de Eça de Queirós fazendo parte da intriga secundária. Após a família Maia ter regressado a Portugal do seu exílio em Inglaterra, Maria Eduarda Runa adoece, o que transforma o Ramalhete num exemplo de catolicismo «lançando Afonso num ateísmo rancoroso». Este excerto revela essencialmente a caracterização de Pedro da Maia, que «estava quase um homem» e a dependência que existia entre ele e a mãe. Posteriormente Maria Runa morre e Pedro fica durante muitos meses numa agonia profunda.


2.     – Caracteriza a personagem Pedro da Maia. Justifica e comprova a tua resposta com levantamentos textuais.
Pedro da Maia é filho de Maria Runa e Afonso da Maia e protagoniza a intriga secundária da obra, sendo um exemplo da fatalidade da educação à portuguesa. (introdução)
Neste excerto Pedro é caracterizado como um homem frágil «tendo pouco da raça, da força dos Maias», parecendo-se mais à sua mãe, Maria Eduarda Runa, por ser «pequenino e nervoso» e extremamente sensível, estando os seus «olhos maravilhosos e irresistíveis, sempre prontos a humedecer-se». Para além disso a «sua linda face oval de um trigueiro cálido (…) faziam-no assemelhar a um belo árabe», mas também a um típico português pelo seu rosto «trigueiro cálido».
Esta debilidade física traduz-se numa grande passividade e relaciona-se com o tipo de educação que Pedro teve e também com a sua própria personalidade «indiferente» a todos os interesses próprios de um rapaz da sua idade, por isso «nenhum desejo forte parecera jamais vibrar naquela alma adormecida e passiva» à excepção da sua vontade de «voltar para a Itália». Toda esta caracterização resume-se ao seu ser «fraco», propício a «crises de melancolia negra», que o faziam parecer mais «velho», e à sua dependência da mãe. (desenvolvimento)
Em suma, Pedro da Maia apresenta uma caracterização tipicamente naturalista, já que é condicionado pelas influências de hereditariedade, do meio e da educação. (conclusão)

3.     – Refere três marcas estético-literárias queirosianas e indica a sua expressividade.
Eça de Queirós é um exímio prosador tendo uma linguagem e estilo muito próprios e expressivos, por isso escolhe criteriosamente as palavras que utiliza.
Neste excerto podemos encontrar a utilização expressiva do adjetivo, verbo, diminutivo e advérbio.
Relativamente ao adjetivo, em expressões como «olhos maravilhosos e irresistíveis», «alma meio adormecida e passiva», «sentimento vivo, intenso» e «o traziam dias e dias mudo, murcho, amarelo», que se traduzem em duplas e tripla adjectivação, há um reforço à caracterização do substantivo com o qual os adjetivos se relacionam, mostrando as duas faces dessa realidade: a objetiva e a subjetiva, ou seja uma nota mais concreta e outra mais emocional ou valorativa, de modo a conseguir uma descrição mais fiel e expressiva, sendo muitas vezes crítica. A primeira, segunda e quarta adjectivação acima transcritas pretendem reforçar a personalidade de Pedro, demonstrando a sua fragilidade e passividade perante a vida, já a terceira realça a dependência existente entre ele e a mãe, já que o seu amor por ela era o único «sentimento vivo, intenso» que ele tinha.
A utilização do verbo no infinitivo em «Nenhum desejo forte parecera jamais vibrar naquela alma» intensifica e noção de fraqueza de espírito de Pedro e desprendimento da própria vida, uma vez que este nunca teve um «desejo forte» que fizesse «vibrar» a sua «alma». Já a utilização do gerúndio, como em «balbuciando e tremendo» prolonga a ação, fazendo crer ao leitor que, neste caso, Maria Eduarda Runa sofreu continuamente com a possibilidade de ver o filho ir para Coimbra, pois não se queria separar dele.
No que diz respeito ao diminutivo é utilizado por Eça de Queirós, fundamentalmente, com um sentido irónico e pejorativo, embora também surja para dar a noção de pequenez. Neste excerto encontramo-lo em «Pedrinho» e «pequenino», duas palavras que caracterizam a personagem Pedro e que intensificam a fragilidade do filho de Afonso da Maia que, embora já sendo «quase um homem», é nomeado pelo diminutivo, como se de uma criança se tratasse.
Finalmente o advérbio «lentamente», que assume o valor de adjetivo na caracterização do desenvolvimento de Pedro, dá, naturalmente também, a noção do modo como esse desenvolvimento se foi fazendo, tendo sido muito devagar.

(A pergunta só pedia três, no entanto coloquei aqui todas as existentes no excerto.)

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