quinta-feira, 13 de março de 2014

Perguntas e respostas-modelo - Os Maias

Perguntas e respostas modelo – Os Maias

p. 51-52 “Deram dez horas...” até ao final do parágrafo “Daí a dias fechou-se...”
1.     Analisa os sentimentos que dominam Afonso da Maia ao longo do excerto.
Ao longo deste excerto, é possível analisar os vários sentimentos que percorrem Afonso enquanto pai e enquanto avó.
Afonso contempla o neto “enternecido”, mostrando um imenso carinho e ternura, o que lhe permite apaziguar a dor que sente por toda a situação que está a viver. O amor que sente pelo neto, fá-lo ser preocupado com o seu bem-estar, estando disposto a fazer qualquer coisa, a satisfazer qualquer necessidade do neto, perguntando à ama se é preciso alguma coisa, “abafando a voz”, de modo a não perturbar o sono de Carlos. Esta preocupação pelo neto é igualmente demonstrada pelo facto de Afonso não “[ousar] beijá-lo, para o não acordar com as barbas ásperas”.
Em relação ao filho, sente uma grande preocupação e angústia, “não pôde sossegar” durante toda a noite, mostrando-se extremamente inquieto, “numa opressão, uma inquietação”, que o deixava em alerta, já que se  apercebera do estado de espírito do filho. Esta perturbação é tal que não o deixa adormecer, já que pressente que o seu filho pode cometer suicídio. Este seu pressentimento provoca-lhe uma enorme aflição, sendo o seu estado de completo desespero quando ouve o tiro, “gritando” de dor.
Este excerto comprova a diversidade e gradação de sentimentos por que Afonso passa, o que faz deste momento um dos mais dramáticos para esta personagem.


2.     Caracteriza o ambiente vivido na casa, realçando a importância das sensações auditivas.
O ambiente vivido na casa de Afonso da Maia é opressivo e angustiante.
A ideia de morte ou desgraça latente existe em todos os gestos, movimentos, silêncios e ruídos. A falta de luz revela o carácter fúnebre da situação e a incapacidade de discernir o melhor caminho a tomar, ou seja, é um ambiente de penumbra trazido pelo desespero de Pedro, por isso, Carlos dorme na “sombra de alcova” e Pedro “escrevia, à luz de duas velas”.
As sensações auditivas presentes no excerto concorrem para favorecer este ambiente soturno e propício à desgraça. Assim: “cochichando ao pé da cómoda, na penumbra”; “todos se esquivaram em pontas de pés quando lhe sentiram os passos”; “a ama continuou a arrumar em silêncio os gavetões”; “perguntou abafando a voz”; “sem ruído, subiu ao quarto de Pedro”;  “escutar: agora no silêncio da casa e do vento que calmara, ressoavam por cima, lentos e contínuos, os passos de Pedro”; “um tiro atroou a casa” - são exemplos pressagiadores da desgraça, incapacidade de lidar com o acontecido e dor e inquietação que imperam naquela casa.
A dor e angústia vividas nesta noite, nesta casa, traduzem-se nos sons ouvidos que adensam a dramaticidade do momento.

3.     Tendo em conta a personalidade de Pedro da Maia, clarifica a expressividade da citação “numa letra firme”.
Pedro da Maia é uma personagem frágil e fraca, no entanto, escreve “com letra firme” a expressão “Para o papá”, demonstrando a certeza da sua resolução, a “única” resolução firme que toma na vida.
O suicídio é, então, encarado como o desfecho inevitável para a personagem. Pedro da Maia sempre foi uma personagem de obsessões, de extremos e quando envereda por um caminho, vive-o intensamente (o amor pela sua mãe, a reação à morte da mãe, o amor por Maria Monforte), por isso acredita nesta sua última resolução e revela firmeza nisso.
Pedro da Maia mostra, desta forma, que é capaz de tomar resoluções e ter certeza das mesmas, independentemente deste caso lhe tirar a vida.           
                                         
4.     Transcreve dois dos diferentes indícios que anunciam a morte de Pedro da Maia.
- a penumbra e o silêncio que se fazia sentir na casa, a que se seguirá a luz e a agitação como reação à tragédia;
- a presença dos criados que, “cochichando”, funcionam como o coro da tragédia clássica;
- o comportamento dos criados que “se [esquivam] em pontas de pés”;
- caracterização de Pedro “face (...) envelhecida e lívida” e “dois sulcos negros”, como associado ao envelhecimento e à morte;
- “a friagem do quarto” (o frio que se fazia sentir no quarto de Pedro);
- o estado de “inquietação” e “opressão” progressivas vividas por Afonso durante a noite.
- a tempestade que acalma, como pressagiadora da desgraça iminente;
- “duas velas que se extinguiam, com fogachos lívidos” – a extinção da vida;
- a agitação de Afonso ao ouvir o tiro.

5.     Identifica duas marcas estético literárias queirosianas. Refere a sua expressividade.
Eça de Queirós é um exímio mestre da língua portuguesa.
Assim, muito recorrentemente, o autor faz uma utilização expressiva do gerúndio, “cochichando”, “sentindo”, “abafando”, “adormecendo”, “gritando”, “apertando”, conferindo um sentido de duração e continuidade aos acontecimentos, retardando a ação e dando lugar às descrições.
Também a dupla adjetivação é bastante utilizada no excerto, como “envelhecida e lívida”, “refulgentes e duros”, “lentos e contínuos”, exprimindo as duas faces da realidade: a objetiva e a subjetiva, neste caso a realidade visível e o estado emocional de Pedro.
Existe ainda a utilização do diminutivo, em “rendinha”, neste caso demonstrativo do carinho do avô pelo neto e a metáfora “dois sulcos negros”, que reforça o estado de espírito de Pedro, pressagiando o seu suicídio.

As marcas estético-literárias queirosianas conferem, deste modo, uma maior expressividade à narrativa.

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