segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Cesário Verde - características gerais

Características realistas:
  •       Supremacia do mundo externo, da materialidade dos objetos; impõe o real concreto à sua poesia.
  • Predomínio do cenário urbano (o favorito dos escritores realistas e naturalistas).
  • Situa espaciotemporalmente as cenas apresentadas ( «Num Bairro Moderno»  «dez horas da manhã»).
  • Atenção ao pormenor, ao detalhe.
  • A seleção temática: a dureza do trabalho («Cristalizações» e «Num Bairro Moderno»); a doença e a injustiça social («Contrariedades»); a imoralidade das «impuras», a desonestidade do «ratoneiro» e a «miséria» em «O Sentimento dum Ocidental».
  • A presença do real histórico: a referência a Camões e o contexto sociopolítico em «O Sentimento dum Ocidental».
  • A linguagem burguesa, popular, coloquial, rica em termos concretos.
  • Pelo facto de a sua poesia ser estimulada pelo real, que inspira o poeta, que se deixa absorver pelas formas materiais e concretas.

Características modernistas:
  •  O poeta empenha-se no real, é certo, porém a instância da visão subjetiva é marcante. Mesmos nos textos mais frequentemente citados como realistas, encontramos já um olhar subjetivo (porque seletivo), valorativo, que se manifesta num impressionismo pictórico, pois mais do que a representação do real importa a impressão do real que suplanta o real objetivo. A realidade é mediatizada pelo olhar do poeta, que recria, a partir do concreto, uma super-realidade através da imaginação transfiguradora, metamorfoseando o real num processo de reinvenção ou recontextualização precursora da estética surrealista.
  • Abre à poesia as portas da vida e assim traz o inestético, o vulgar, o feio, a realidade trivial e quotidiana. É o seu «o pendor subversivo».
  • Forte componente sinestésica (cruzamento de várias sensações na apreensão do real), de pendor impressionista, que valoriza a sensação em detrimento do objeto real.
  • Um certo interseccionismo entre planos diferentes, visualismo e memória, real e imaginário, etc. (concretizado muitas vezes em hipálages sugestivas).

  • Cesário Verde é caracterizado pela utilização do Parnasianismo que é a busca da perfeição formal através de uma poesia descritiva e fazendo desta algo de escultórico, esculpindo o concreto com nitidez e perfeição.
  • Os temas desta corrente literária são temas do quotidiano com um enorme rigor a nível de aspeto formal e há uma aproximação da poesia às artes plásticas, nomeadamente a nível da utilização das cores e dos dados sensoriais.
  • Através deste parnasianismo ele propõe uma explicação para o que observa com objetividade e, quando recorre à subjetividade, apenas transpõe, pela imaginação transfiguradora, a realidade captada numa outra que só o olhar de artista pode notar.
  • Cesário utiliza também uma linguagem prosaica, ou seja, aproxima-se da prosa e da linguagem do quotidiano.
  • A nível morfossintático recorre à expressividade verbal, à adjetivação abundante, rica e expressiva, por vezes em hipálage, ao colorido da linguagem e tem uma tendência para as frases curtas.
  • Vocabulário concreto
  • Linguagem coloquial
  • Predomínio do uso do decassílabo e do Alexandrino
  • Uso do assíndeto que resulta da técnica de justaposição de várias perceções
  • Técnica descritiva assente em sinestesias, hipálages, na expressividade do advérbio, no uso do diminutivo e na utilização da ironia como forma de cortar o sentimentalismo (equilibrar).
  • A estrutura narrativa dos seus poemas, em que encontramos ações protagonizadas por agentes/atores ( «Deslumbramentos», «Cristalizações» e «Num Bairro Moderno»).
  • A estrutura deambulatória que configura uma poesia itinerante: a exploração do espaço é feita através de sucessivas deambulações, numa perspetiva de câmara de filmar, em que se vão fixando vários planos e em que há um fechamento cada vez maior dos cenários apreendidos pelo olhar. É uma espécie de olhar itinerante e fragmentário, que reflete o passeio obsessivo pela cidade (e também no campo em alguns poemas); uma poesia transeunte, errante. Exemplos mais significativos são os poemas «Num Bairro Moderno» e «O Sentimento dum Ocidental», que definem a relação do poeta com a cidade.
  • O olhar seletivo: a descrição/evocação do espaço é filtrada por um juízo de valor transfigurador, profundamente sinestésico ( «Num Bairro Moderno»).
  • O poeta é como um espelho em que vem repercutir-se a diversidade do mundo citadino.
  • O contraste luz/sombra: jogo lúdico de luz em que as imagens poéticas se configuram em cintilações, descobrindo, presentificando e recriando a realidade («O Sentimento dum Ocidental»). Tanto pode ser a luz do dia como a luz artificial, como a luz metafórica que emana da visão da mulher. A incidência da luz é uma forma de valorizar os objetos, entendendo-se a luz como princípio de vida.
  • Automatismo psíquico: associações desconexas de ideias, visível nas frases curtas, na sequência de orações coordenadas assindéticas, que sugerem uma acumulação, uma concatenação aleatória de ideias («Contrariedades», «O Sentimento dum Ocidental).
  • Adjetivação particularmente abundante e expressiva, com dupla e tripla adjetivação, ao serviço de um impressionismo pictórico.
  • Os substantivos, presentificando a realidade convocada, frequentemente em enumeração, o que sugere uma acumulação, um compósito de elementos, caraterísticos da construção pictórica.

Características temáticas:
  • Oposição cidade/campo, sendo a cidade um espaço de morte e o campo um espaço de vida – valorização do natural em detrimento do artificial. O campo é visto como um espaço de liberdade, do não isolamento; e a cidade como um espaço castrador, opressor, símbolo da morte, da humilhação, da doença. A esta oposição associam-se as oposições belo/feio, claro/escuro, força/fragilidade.
  • Oposição passado/presente, em que o passado é visto como um tempo de harmonia com a natureza, ao contrário de um presente contaminado pelos malefícios da cidade («Nós»).
  •  A questão da inviabilidade do Amor na cidade.
  •  A humilhação (sentimental, estética, social).
  •  A preocupação com as injustiças sociais.
  •  O sentimento anti-burguês.
  •  O perpétuo fluir do tempo, que só trará esperança para as gerações futuras.
  •  Presença obsessiva da figura feminina.

(…)

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